Ainda de manhã, o telefone toca, e ao atendê-lo, minha esposa fala afoita e ansiosa.
- Adivinhe que bicho está aqui na minha sala?
Mais afoito e ansioso ainda, eu respondo:
- Qual? Qual? diga logo? um iguana? uma coruja? Um elefante!!!??? Um
jegue!!!??? rsrsrsr...
- Não! Um gavião, acho que é filhote. O que eu faço?
Começa o dilema. Plena greve da polícia militar da Bahia. Uma onda
de saques invade vários pontos da cidade. E a Entidade correta para se entregar
animais silvestres está temporariamente inacessível. O CETAS (Centro de Triagem
de Animais Silvestres).
Telefono compulsivamente pra lá e nada pra ninguém!. Tento a Guarda
Municipal e nada!, a Guarda Florestal e nada também! o IBAMA? Sem chance de
contato!.
Ligo pro jardim zoológico, falo com o gerente e sou informado que o
jardim zoológico não pode admitir animais silvestres, só o CETAS é quem tem
autorização.
E agora? Bom, assumi uma postura pessoal e pedi que a minha esposa
trouxesse para casa a ave de rapina. Fiquei com medo dela morrer por lá.
À noite, quando minha esposa chegou, trouxe uma caixa toda furada e
ao logo abri-la, identifiquei a espécie.
Ôpa! É um filhote de gavião carijó. Vamos ter que abrigá-lo até
consegui falar com o pessoal do CETAS o mais rápido possível!.
Nessa brincadeira, a greve foi se prolongando e o gavião foi ficando.
Fui orientado a alimentá-lo com pequenos pedacinhos de carne crua
embebidas com pouca água.
Coloquei-o no quarto da minha filha, pois ela estava viajando.
Se arrependimento matasse...
huuum!!!!
O bicho praticamente pintou o quarto da minha filha. Uma pintura
abstrata, meio surrealista sabe? Uma verdadeira “obra” de arte!. De onde vinha
tanto cocô? Seria uma produção em grande escala industrial? Um bombardeio
inimigo, uma usina radioativa? e as leis da física onde corpo, lugar e espaço
se co-relacionam? Estavam todas corrompidas! Como vou limpar tudo isso? Não sei
se ria, ou se chorava!. Sujou absolutamente tudo!. Pqp!!!!
Além do mais, quando entrava no quarto levando a carne, o bicho voava na minha direção pra me
atacar. Bastava ficar agachado e pegar no prato dele.
Chegou por duas vezes, a ferir um pouco a minha testa. Por sorte não
atingiu meu olho!.
Interessante é que ele só olha no nosso olho!. E que olhar
intimidador.
Depois, pacientemente, dia após dia, estabeleci algum contato melhor
com ele. Mas não
me aproximei muito, afim de mantê-lo selvagem.
Momento da soltura na mata do Parque de Pituaçú
A contrapartida valeu? Sim!. Pude fazer boas fotos e aprendi uma
lição pro resto da vida:
Nunca leve pra casa um animal silvestre, principalmente uma ave de
rapina em fase final de crescimento. Ainda mais se o abrigo for dentro de um apartamento.
Duas semanas depois, o carijó já estava com a plumagem quase totalmente crescida, e finalmente
o soltei no fundo do Museu de Ciência e Tecnologia da Bahia, lá, ele alçou seu
primeiro voo em direção à extensa mata que existe no local.
Missão cumprida!.
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